Quando
uma criança é diagnosticada com autismo, em especial em idade precoce,
este diagnóstico não é capaz de dizer muito sobre o seu “nível” de
autismo. Muitas vezes ficamos confusos e buscamos formas mais
específicas de categorizar a severidade da síndrome. E termos como “alto
funcionamento” ou “baixo funcionamento” não servem para descrever a
severidade do autismo.
Muitas
vezes usa-se equivocadamente o termo “alto funcionamento” referindo-se a
um “pacote” que inclui a cognição preservada, uma boa linguagem
expressiva e receptiva, um bom funcionamento nas habilidades de vida
diária, enquanto o termo “baixo funcionamento” é reservado para
indivíduos não verbais ou com baixas habilidades de comunicação, baixos
níveis de cognição e necessidade de muito suporte na sua rotina diária.
A
confusão reside exatamente na compreensão entre o "nível de
funcionamento" (capacidade intelectual) e a "gravidade do
autismo”(severidade de sintomas), pois definitivamente são critérios
distintos.
Existem
crianças que são consideradas "de alto funcionamento" que têm traços
autistas graves (comportamento muito rígido, pensamento inflexível,
muito resistente às mudanças, crises de birra freqüentes e intensas,
problemas sensoriais limitantes, grandes dificuldades no trato social e
na regulação emocional). Mas elas são consideradas "de alto
funcionamento", porque são muito verbais, tiram boas notas na escola,e
podem desempenhar uma certa autonomia nas habilidades de auto-cuidado .
Também há crianças que são consideradas de "baixo funcionamento", porque
eles são não-verbais, têm dificuldades na aprendizagem e na realização
dos cuidados pessoais, mas as características do autismo são menos
graves, sendo mais flexíveis em sua forma de pensar, em lidar com
transições diárias, são mais sociais, mais calmas e reguladas
emocionalmente, com menos problemas sensoriais e podem nem apresentarem
crises de birra. Assim, o nível de funcionamento, não necessariamente se
correlaciona com a gravidade do autismo. Só porque uma criança é
considerada de "alto funcionamento", não significa que ela não possa ter
autismo severo. Muitas pessoas confundem os dois, e isso é perigoso por
que pode excluir a necessidade de algumas intervenções ou por outro
lado diminuir as expectativas com relação às possibilidades da criança.
E
agora tornando as coisas ainda mais complicadas: É preciso ter muito
cuidado quando igualamos a expressão "não verbal" a “baixa capacidade
intelectual”. A maior característica utilizada para distinguir uma
criança de "alto vs baixo funcionamento" é o grau de linguagem falada
que eles têm e isso também pode ser uma grande armadilha! Apesar de
habilidades verbais serem altamente correlacionadas com a inteligência,
nem sempre é o caso. Não podemos assumir que a criança não-verbal tem
baixa capacidade intelectual. Há algumas crianças que têm dificuldade
para falar devido ao processamento auditivo, as dificuldades de
planejamento motor, e não a falta de habilidades cognitivas. Muitas
vezes as pessoas assumem que a criança não-verbal tem um autismo severo e
perdem a chance de alcançar todo o potencial dela ao diminuírem as
oportunidades oferecidas por simplesmente desacreditarem na sua
capacidade. Elas simplesmente podem não expressarem-se nas nossas formas
habituais. Uma vez que encontram uma "voz" através de fotos, palavras
escritas, sinais manuais, sistemas de comunicação alternativa, vemos que
elas têm habilidades cognitivas muito maiores do que havíamos previsto.
O mesmo engano pode ocorrer para a criança que é muito verbal, mas a
maioria da fala ocorre num “script” ou através de ecolalia, e podem
parecer ter mais habilidades cognitivas do que de fato possuem.
Resumindo,
um indivíduo pode ser de “alto funcionamento”, mas ter autismo moderado
a grave. Ou pode ser considerado de ”baixo funcionamento”, mas ter
autismo leve.
Isso
pode parecer contraditório à primeira vista, mas quando olhamos mais de
perto, vemos que esses rótulos representam, na verdade, duas dimensões
diferentes. Uma representa o grau de funcionamento cognitivo,
intelectual ou deficiência e a outra representa a gravidade dos sintomas
do autismo.
Então,
a nossa melhor aposta é a de assumir sempre a "competência" para
aprender. E nosso papel é encontrarmos os apoios certos e identificarmos
o estilo de aprendizagem de cada criança. Não devemos ficar presos aos
rótulos "baixo ou alto funcionamento", ou mesmo aos termos leve,
moderado e severo. É impossível predizer qual o potencial de cada
criança, mas é fundamental que se acredite e que não se esmoreça frente
às inúmeras dificuldades impostas pelo autismo, seja no funcionamento
intelectual, na linguagem ou na severidade dos sintomas.
Fonte: Claudia Zirbes
Referência: Autism Discussion Page, do psicólogo Bill Nason
2 comentários:
Muito bacana seu Texto, Tenho um filho autista de 4 anos, não verbal, porém ele atende a muitos comandos (apagar a luz,fazer xixi, fechar a porta, dar descarga, almoçar (já se alimenta sozinho), sentar no sofá e etc...) se fosse dar um nível a ele pelo modelo conhecido ele seria de baixo funcionamento, porém isso seria um erro, pois ele faz muitas coisas até que precoces para a idade dele. Ele ainda tem uma grande capacidade de concentração, monta quebra cabeças com mais de 30 peças com muita facilidade e sempre que quer algo ele procura um meio de pegar. Os modelos de classificação não se aplicam, até por que a área da saúde não faz parte da área de Ciências exatas. Atribuir niveis a um problema tão complexo é o mesmo que discutir se o copo está meio cheio ou meio vazio.
Muito interessante seu ponto de vista realmente classificar o autista por ter essa competência ou não tê-la sem nem mesmo observar seu desenvolvimento como um todo.
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